No mundo de hoje, suas ideias são tudo o que lhe restou

No mundo de hoje, suas ideias são tudo o que lhe restou.

Escrevi este texto em 2017.

A música que o sujeito ouve indo pro trabalho é do Spotify. O carro é Uber, mas também não é do motorista. Nem de quem aluga pra ele. É do banco.

O sujeito paga por tudo isso com um cartão de crédito. O dinheiro que ele tem (se tiver) em conta no banco também não é mais dele. É credito dele com o banco.

Afinal, os bancos só tem a obrigação de ter 11% de liquidez sobre seus depósitos. É um resumo grosseiro, mas significa que a cada R$100 depositados no banco, ele só precisa ter R$11.

O resto esta emprestado por aí.

Ninguém mais guarda dinheiro ou ouro em casa, só uns trocos e quem sabe joias. A casa que o sujeito mora também não é sua. O IPTU se comporta como um aluguel. Pare de pagar e o dono lhe expulsa do imóvel. Quem mora de aluguel só paga pra um intermediário a mais, que é o “dono” do imóvel.

Se um criminoso lhe ameaça, nosso amigo não tem uma arma para se defender. Ele tem que chamar a polícia. Se escolher fazê-lo num iPhone, pode se recordar que o aparelho não é inteiramente seu também, já que ele só aceita aplicativos pré-aprovados pela empresa.

Com lançamentos a cada 2 anos, o usuário de iPhone acaba tendo uma espécie de leasing com a Apple ou as operadoras.

Até agora, nada contra. São constatações.

Sem os bens, o que sobrou? Sua força de trabalho? Será que ela ao menos lhe pertence? Você pode atuar na área que quiser ou só naquelas em que tenha obtido certificação do órgão encarregado da reserva de mercado? Pode abrir uma empresa e já sair vendendo, ou só depois de receber licença e inspeção oficiais? E o fruto do seu trabalho? Tendo deixado cerca de 50% da sua remuneração direto pro Fisco (IR e INSS), o que você consome já vem embutido com outros 30 a 40% de imposto, em média. Sobra pouco. O suficiente pra você sentir que é o dono daquilo, que volta pro banco, onde….bem, eu já expliquei.

Vamos concluir.

Nós pertencemos ao Estado. Nossos bens, cedemos à umas poucas empresas, geralmente bastante próximas e alinhadas a este Estado.

Agora a parte boa. Enquanto o processo acima se acirrava, outro corria em sentido oposto. Até pouco tempo atrás, quem controlava nosso acesso à informação eram pouquíssimas empresas, concessões estatais, aliás (mais essa).

Com as redes sociais, essa barreira caiu em parte. Por um lado você pode publicar o que quiser e ser ouvido. Por outro, novas empresas rapidamente dominaram esse mercado online, concentrando o fluxo de notícias ainda mais do que era na época da TV analógica

Essas empresas são todas imensas e naturalmente próximas a governos, que também tem seus próprios interesses, que via de regra não coincidem com os seus , e nem sempre toleram a mensagem que você quer passar. Vide a cobrança dada pelo “establishment” governista americano no Facebook, que teria feito muito pouco para coibir notícias pró Trump na época das eleições.

O caso foi chamado de “Fake News”, mas era pano de fundo para a criação de uma censura prévia digital, que Google e Facebook estão tentando implementar oficialmente (eles chamam de coibir discurso de ódio, claro).

Cuidado. Quem não deixa você empreender e fica com quase todo fruto do seu trabalho, certamente não quer você ouvindo e falando livremente.

No mundo de hoje, suas ideias são tudo o que lhe restou.

VICTOR METTA